O comitê eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) tem feito nos últimos dias monitoramentos internos sobre a revelação da compra de dezenas de imóveis em dinheiro vivo pela família do presidente. A avaliação de integrantes da campanha é de que o tema não só “colou”, como reduz a principal “arma” eleitoral de Bolsonaro: os ataques a Lula por escândalos de corrupção.
Reportagem do portal UOL mostrou que Bolsonaro e seus familiares compraram 107 imóveis desde a década de 1990 e que 51 dessas aquisições foram feitas com “moeda corrente nacional”. Embora a prática não seja ilegal, ela levanta suspeita de lavagem de dinheiro – que é o crime de ocultar a origem ilegal de recursos financeiros.
Bolsonaro mudou o tom sobre a compra de imóveis (em 2018, disse ao jornal Folha de S Paulo que o comum era Doc e que não tinha dinheiro no colchão) e, agora, diz não ver problema na compra em espécie.
Assessores ouvidos pelo blog avaliam que a reação de Bolsonaro é insuficiente para tirar o tema da pauta – e discutem uma nova estratégia diante do monitoramento que aponta prejuízos à imagem do presidente. Uma ala de assessores defende que Bolsonaro reaja mais enfaticamente para evitar que o desgaste cresça e mine o discurso anticorrupção – principal arma de campanha de Bolsonaro contra o ex-presidente Lula, que lidera a corrida presidencial segundo as pesquisas de intenção de voto.
A preocupação é, principalmente, o impacto entre as mulheres chefes de família evangélicas e setores médios indecisos, que têm a corrupção como um tema caro no momento de decidir o voto.
O comitê de Bolsonaro se divide, entretanto, sobre a forma como reagir. Uma parte avalia que o presidente – que até aqui se saiu com um lacônico “qual é o problema de comprar imóvel com dinheiro vivo?” – precisa se posicionar de maneira mais contundente sobre o caso.
Outra ala crê que o melhor é o presidente se calar sobre o caso e mirar, como sempre faz, na imprensa e deixar o tema para um eventual segundo turno. A avaliação desse grupo é que o episódio dos imóveis deve ter mais impacto num eventual segundo turno e que, nesse momento, bastará contra-atacar com as acusações de Antônio Palocci, ex-ministro de governos petistas, contra Lula.
“Nenhuma [acusação] é mais forte do que Palocci denunciando corrupção – e ele [Lula] não responde”, diz uma fonte da campanha bolsonarista.
A campanha de Lula deve explorar o episódio dos imóveis em dinheiro vivo para desgastar Bolsonaro, mas o tom, até aqui, é de cautela.
FONTE: G1