Brasil – Uma enfermeira de Quixeré, no Ceará, está no centro de uma disputa judicial que pode mudar sua vida – e abalar a confiança nas apostas online. Maria do Socorro Sombra, de 48 anos, alega ter acertado os números do Powerball, uma das maiores loterias dos Estados Unidos, em 2 de outubro de 2020, pela plataforma Lottoland, o que lhe renderia um prêmio de R$ 1,8 bilhão. Bloqueada pela casa de apostas após o suposto ganho, ela acionou a Justiça, afirmando ter provas como e-mails, capturas de tela e anotações em uma agenda. “Vi que estava tratando com ladrão”, desabafou em entrevista ao Metrópoles. A Lottoland, por sua vez, nega categoricamente a vitória e contesta o valor do prêmio. Quem é Maria do Socorro? Nascida e criada em Quixeré, a 168 km de Fortaleza, Maria do Socorro se descreve como uma pessoa simples. “É inacreditável uma pessoa como eu ganhar”, disse à coluna do Metrópoles, refletindo sobre a improbabilidade de uma moradora do interior cearense conquistar um prêmio bilionário. Enfermeira dedicada, ela afirma ter anotado os números da aposta em uma agenda e guardado capturas de tela do jogo antes de ser bloqueada pela Lottoland. “Tenho provas de vários e-mails pedindo acesso, que resolva essa situação, mas acabou”, declarou, acompanhada de seus advogados, Pablo Oliveira e Regis Albuquerque. O Conflito com a Lottoland A disputa começou quando Maria tentou acessar sua conta na Lottoland após o sorteio do Powerball, mas encontrou sua página bloqueada, impossibilitando a emissão do comprovante da aposta. Sem o bilhete premiado, ela recorreu à Justiça, exigindo que a empresa apresente o histórico de suas apostas. Segundo a enfermeira, a Lottoland se recusou a fornecer o comprovante e negou que ela tenha acertado os números sorteados. A Lottoland, legalizada no Brasil conforme o Ministério da Fazenda, afirma que Maria do Socorro não ganhou o prêmio. Em nota, a empresa declarou: “A Eu Lotto forneceu toda a documentação relevante, incluindo o comprovante original da aposta, que demonstra claramente que os números selecionados por ela não foram sorteados no prêmio principal da Powerball.” A casa de apostas também contesta o valor de R$ 1,8 bilhão, alegando que o prêmio máximo seria de R$ 244,3 milhões (5 acertos + Powerball) ou R$ 11,3 milhões (5 acertos). “O processo trata exclusivamente da divulgação do histórico de apostas, não de um prêmio”, reforçou a Lottoland. A Batalha Judicial O caso ganhou notoriedade ao chegar à 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, em 17 de junho de 2025, decidiu unanimemente que o processo deve ser julgado no Brasil, rejeitando o pedido da Lottoland para transferi-lo a Gibraltar, onde fica sua sede. A Justiça brasileira, incluindo a 2ª Vara Cível de Limoeiro do Norte e o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), considerou abusiva a cláusula que exigia julgamento no exterior, argumentando que isso dificultaria o acesso de Maria à Justiça devido a barreiras linguísticas, custos e distância. O relator do caso no STJ, ministro Antonio Carlos Ferreira, destacou: “A exigência de litigar em Gibraltar imporia ônus desproporcional, comprometendo o direito fundamental de acesso à Justiça.” O valor da causa, fixado em R$ 1,8 bilhão pela Justiça cearense, reflete o montante alegado por Maria, embora a Lottoland conteste. Ainda cabe recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF). Provas e Contradições Maria do Socorro baseia sua convicção em anotações manuais em uma agenda e capturas de tela da aposta, que ela diz terem sido feitas antes do bloqueio. “Eu sei que ganhei porque anotei tudo certinho”, afirmou. A Lottoland, por outro lado, apresentou documentos judiciais, incluindo uma captura de tela do suposto jogo, que alega comprovar a ausência de vitória. A empresa insiste que opera sob “rigorosa supervisão regulatória” e que seus sistemas automatizados garantem a integridade das apostas. O impasse levanta questões sobre a transparência das plataformas de apostas online. Em fóruns como o Reddit, usuários especulam sobre possíveis falhas no sistema da Lottoland, citando casos de bilhetes com dados incompatíveis ou bloqueios suspeitos. “Se não houve vitória, por que não mostrar o comprovante logo?”, questionou um internauta no subreddit r/farialimabets. A Lottoland, porém, mantém que forneceu todas as provas necessárias e que Maria está equivocada. Impactos e Reflexões O caso de Maria do Socorro expõe os desafios de consumidores brasileiros diante de empresas internacionais de apostas. Apesar da legalização da Lottoland no Brasil, a disputa evidencia lacunas na regulação de plataformas online, especialmente em casos de prêmios de grande porte. A decisão do STJ fortalece a proteção ao consumidor, mas o desfecho do processo – que ainda tramita – determinará se Maria conseguirá o comprovante e, eventualmente, o prêmio. Enquanto a Justiça analisa o caso, Maria segue firme. “Não vou desistir, porque sei que tenho razão”, disse. Com R$ 1,8 bilhão em jogo, a história da enfermeira cearense tornou-se um alerta sobre os riscos e promessas das apostas online, capturando a atenção do Brasil e reacendendo o debate sobre transparência no setor.
fonte:cm7