Um projeto inédito, que está sendo implantado em Manaus, vai garantir que moradores de palafitas da cidade sejam conectados à rede de esgotamento sanitário pela primeira vez. A ação vai permitir que todos os efluentes de uma região vulnerável cheguem até uma estação e recebam o tratamento adequado, evitando que o esgoto seja despejado diretamente na natureza, colaborando assim, para a recuperação ambiental da região.
Há dois meses, a concessionária Águas de Manaus trabalha em obras de instalação de rede de esgoto no Beco Nonato, localizado no bairro da Cachoeirinha, zona Sul da capital amazonense. A estimativa é que mais de 900 pessoas sejam beneficiadas com a chegada do serviço de esgotamento sanitário na região.
A estrutura que está sendo implantada no Beco Nonato consiste em aproximadamente 350 metros de tubulações de rede coletora, além da construção de uma elevatória compacta (equipamento que tem a função de bombear o esgoto). Toda estrutura de interligação interna das palafitas também está sendo realizada pela concessionária. A previsão é que o sistema de esgoto esteja operando no local no primeiro semestre de 2023. Todos os efluentes coletados no Beco Nonato vão percorrer cerca de três quilômetros de tubulações, até chegarem na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Educandos, onde passará por todos os processos de tratamento e desinfecção, antes de ser devolvido para o rio Negro.
Além da construção da infraestrutura, as equipes da Águas de Manaus estão realizando um trabalho de conscientização junto aos moradores do beco Nonato, além de adaptar as ligações internas de cada residência. O objetivo é que todos conheçam os benefícios da chegada do serviço ao local e como ele pode transformar a realidade da área.
“É um projeto piloto que estamos executando em Manaus. Nos últimos anos, desenvolvemos algumas tecnologias e soluções que garantiram a chegada da água tratada em diversas regiões vulneráveis da cidade. Nos tornamos referência nisso para o Brasil. E agora, queremos iniciar um novo passo, trabalhando também com o esgotamento sanitário”, destaca o diretor-presidente da concessionária, Thiago Terada.
Melhorias
Os residentes do beco Nonato já estão incluídos na Tarifa Manauara, benefício que concede 50% de desconto nas faturas de água e de esgoto. Moradora do beco há 40 anos, a aposentada Maria Yvone da Silva Oliveira, de 67, acredita que a instalação da rede de saneamento no local vai ter efeito positivo, assim como foi com a água, há três anos, quando a concessionária fez a substituição das ligações irregulares, quase sempre submersas nos igarapés, por redes aéreas que facilitaram os trabalhos de manutenção e a identificação de vazamentos.
“A encanação de água antiga aterrou na lama com o tempo. Um dia, o meu cano quebrou, aí meu marido precisou cavar para ver se achava. Isso dá uma ideia do quanto era difícil ter acesso à água. Hoje não bebemos mais água com um cano metido na lama, e, em relação ao esgoto, também vai ser bom. A gente precisa lidar com o mau cheiro, com as doenças, o acúmulo de lixo… Meus netos todos já caíram nesse igarapé, imagina o perigo”, disse a idosa.
A implantação das redes coletoras deve ser finalizada em dezembro. A partir daí, os serviços devem se concentrar na instalação da elevatória do Beco Nonato e na interligação de cada residências à rede. “É uma área de complexidade operacional. Os tubos não estão enterrados, e é uma metodologia completamente diferente de coleta de esgoto de uma área urbanizada. A gente teve que entender a particularidade de cada uma das 180 residências para conseguir fazer a coleta”, descreve o gerente de serviços da concessionária, Felipe Poli Romero.
Histórico
A área do Beco Nonato foi escolhida para receber a rede de esgotamento por ser uma região simbólica para a empresa. Foi por lá também que, em 2018, a Águas de Manaus iniciou o trabalho de implantação de redes de água em áreas vulneráveis, serviço que eliminou ligações irregulares e melhorou a qualidade de vida nestas regiões.
Por meio de programas de relacionamento como o “Vem com a Gente”, a empresa conseguiu implantar mais de 150 mil metros de rede de água em locais que não contavam com o serviço regular, beneficiando mais de 130 mil pessoas que passaram a receber pela primeira vez água potável, certificada por mais de 300 mil testes de qualidade por ano. Esse trabalho rendeu à Águas de Manaus o Prêmio Cases de Sucesso em Água e Saneamento 2019, Pacto Global das Nações Unidas, uma plataforma da ONU voltada para empresas alinharem suas estratégias à sustentabilidade.
“Quando levamos a água, reduzimos em 35% a quantidade de doenças hidro veiculadas. Com o esgotamento sanitário, a nossa expectativa é reduzir ainda mais os gastos com saúde pública. Vale lembrar que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), para cada R$ 1 investido em saneamento e tratamento de água, R$ 4 são economizados em despesas com saúde. Já observamos esta melhoria com a chegada da água regular e agora iremos comprovar com a instalação e conexão dos moradores à rede de esgotamento sanitário”, ressaltou o diretor-executivo da concessionária, Diego Dal Magro.