A pandemia transformou negócios em todos os setores, no mundo todo, e o de restaurantes foi um dos mais afetados. Hoje, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o delivery representa de 20% a 30% do faturamento do setor – antes, não chegava a 5%.
Neste cenário, surgiram diversos estabelecimentos voltados às entregas, especialmente com cozinhas ocultas (dark kitchens, em inglês).
Mas há também um movimento de grandes empresas criando ou trazendo novas marcas que seguem este modelo. É o caso da Bloomin’ Brands.
Dona dos restaurantes Outback, de comida australiana, e Abraccio, de italiana, a Bloomin’ Brands viu suas vendas por delivery dispararem nos últimos dois anos.
Se antes os clientes mal pediam a comida de seus estabelecimentos em casa, agora 25% de todo o faturamento vem das refeições originadas de aplicativos como o iFood.
Dos 44 estabelecimentos da rede que faziam entregas pré-pandemia, esse número saltou para 135 atualmente.
Diante desse crescimento, a Bloomin’ Brands tirou do papel o projeto de trazer uma marca dos Estados Unidos totalmente focada em delivery, a Aussie Grill, inaugurada no fim de 2020.
O plano com a marca, especializada na venda de frangos fritos e sanduíches, era atrair um público diferente do Outback e do Abraccio, com um preço mais baixo do que os seus outros restaurantes.
O detalhe é que nenhuma loja ou cozinha foi erguida para que a Aussie Grill vendesse seus produtos: tudo é feito dentro da cozinha de mais de 100 Outbacks.
Pierre Berenstein, presidente da companhia no Brasil, não divulga a participação da marca nas vendas por delivery do grupo, que chegam a 100 mil pedidos por semana, mas diz que a aposta deu certo.
“É a nossa marca superjovem e um novo negócio que se tornou bem significativo”, afirma.
Este movimento, que tem se intensificado no Brasil, já é rotina em cadeias de restaurantes mundo afora. A Applebee’s, por exemplo, criou a Cosmic Wings, especializada em frango.
Já a rede de pizzarias americana Chuck E. Cheese, com mais de 600 lojas espalhadas pelos Estados Unidos, criou a Pasqually’s Pizza & Wings.
Segundo o especialista em marcas e presidente da TM20 Branding, Eduardo Tomiya, essa direção faz sentido para marcas que querem vender produtos diferentes ou com uma faixa de preço distinta da marca-mãe.
“É uma forma de proteger um dos principais ativos de toda a empresa, que é a marca. Podem se tratar de negócios diferentes ou distantes para uma marca já estabelecida explorar e confundir os consumidores.”
Marmitas
Outra empresa que iniciou este movimento, ainda que em período de testes, é a Giraffas. A companhia sofreu muito durante a pandemia: depois de a sua receita cair 40% em 2020, o valor saltou 42% no ano passado. Ainda assim, foi insuficiente para recuperar os R$ 747 milhões faturados em 2019.
Agora, a meta do presidente da empresa, Carlos Guerra, é potencializar todas as receitas possíveis e aproveitar a recuperação do segmento com o fim do distanciamento social para retomar os números pré-pandemia.
Daí a importância das entregas. Antes dos fechamentos por causa da Covid-19, o faturamento do grupo no delivery era de 6%, número que hoje chega a 12%.
Mas o desejo de Guerra é alcançar os 20% nos próximos três anos. Para isso, lançou duas marcas: a Saffari, focada em marmitas, e a Storo, de hambúrgueres.
Por enquanto, apenas algumas lojas do Giraffas estão produzindo os pedidos para ambas as marcas. Porém, de acordo com o executivo, a ideia é construir dark kitchens se os negócios evoluírem.
“Mas ainda temos um potencial instalado enorme dentro das lojas para fazer os negócios funcionarem”, diz Guerra.
Delivery de nascença
Ao mesmo tempo, outras companhias já nascem totalmente focadas em delivery. A ATW Delivery Brands surgiu em 2016 com uma cozinha oculta. De lá para cá, a empresa criou seis marcas: Number One Chicken, Gringo, Julius Dog, O que comer Fernando?, Arroz e Feijão e Uma Yá, cada uma voltada a uma culinária diferente.
Hoje, são mais de 320 lojas, todas elas franquias de uma ou mais marcas, espalhadas pelo Brasil, Portugal e México.
O faturamento chegou a R$ 160 milhões no ano passado e a meta é alcançar R$ 300 milhões neste ano e 450 franquias.
Segundo Rafael Matos, um dos sócios fundadores da empresa, a ATW está investindo em tecnologia para atrair novos investidores e ajudarem na expansão – a companhia prevê alcançar R$ 1 bilhão de receitas em 2023.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.