Batizado com nome cujo significado é “querido” e que também permite um jogo de palavras capaz de simbolizar o que realizou no Morro da Mangueira, David deu vida a um local que já foi marcado por mortes e violência no passado.
– Meu coração está muito cheio de alegria, eu tenho 55 anos nessa comunidade. David, você dá vida a esse lugar. Esse lugar que vocês estão pisando aqui hoje no passado era um lugar de tristeza. O nome desse lugar aqui hoje é vida, lugar de esperança, lugar de sonhos. Aqui se realizam sonhos – disse Marcos Aurélio, o responsável pela escolinha e chamado carinhosamente por todos de Marquinhos.
Na última terça-feira, debaixo de forte chuva, um Papai Noel de 1,89m, pernas longas e de barrigão improvisado chegou ao Campo da Pedreira, onde crianças e adolescentes jogam bola na Escola Flamengo Social Mangueira. Décadas atrás o espaço que hoje proporciona sonhos às crianças era palco de atividades pesadas.
David Luiz vira papai noel em ação com crianças da Mangueira. Papai Noel do Flamengo, David Luiz faz a festa das crianças na Mangueira
David Luiz abraça Marquinhos, responsável pela Escola Flamengo Social Mangueira, enquanto a criançada, com presentes na mão, corre atrás da bola — Foto: Fred Gomes
Com pinta de reforço de peso, David caminhou até o campo enquanto as crianças o esperavam no círculo central. Ao abrir a porta, foi recebido com os gritos de “Uh, uh, Papai Noel”.
David Luiz, ainda disfarçado, troca passes com crianças da Escola Flamengo Social Mangueira — Foto: Fred Gomes
Quando se juntou às crianças, a maioria já não palpitava mais. Afirmava convicta: “É o David Luiz”. A reportagem tentava ludibriar a molecada. Sugeria Gabigol, Pedro, Bruno Henrique e até Gerson, que nem voltou ao Flamengo ainda. Eles não caíam mais. A esperta e sorridente Thaila rebatia insistentemente: “Gerson nada… Gerson branco? É o David Luiz!”.
A sorridente Thaila não caiu no papo da reportagem de que o Papai Noel era o Coringa Gerson, grande desejo do Flamengo — Foto: Fred Gomes
E era mesmo. Como numa partida de futebol, o zagueiro do Flamengo ficou dentro da comunidade por pouco mais de 90 minutos. Chegou ao campo às 11h33 e deixou o Morro da Mangueira pouco depois de 13h10.
Distribuiu presentes, abraços, autógrafos (que, em sua maioria, mancharam-se com o temporal) e muito amor. Carinho recíproco que o fez refletir sobre o valor do que vivera naquele 21 de dezembro.
– Talvez seja o dia mais feliz da temporada, onde você vive aquilo que é verdade, aquilo que é humano. A gente fica até sem palavras depois desse depoimento de vida do Marquinho, que é algo tão presente em nossa sociedade – disse David, emendando:
– Quando a gente passa aqui perto (a Mangueira é comunidade vizinha ao Maracanã) com os ônibus são essas crianças daqui que estão gritando por nós antes de entrarmos no Maracanã. Muitas delas sonham estar lá pra ver o jogo, mas muitas não podem jr. Para mim, talvez tenha sido o maior título deste ano poder estar aqui desfrutando de alguma forma e retribuindo o carinho que eles dão pra nós durante o ano todo e renovando as energias da melhor maneira possível.
David fez Thaila, Rayan, Yuri, Amadeus e dezenas de crianças sorrirem. Arrancou também as lágrimas de Ronald, volante destacado da escolinha e de 14 anos. Depois de tanta emoção, o garoto abriu um sorrisão.
FONTE: G1