Mundo – O Nepal vive um dos momentos mais turbulentos de sua história recente, com protestos violentos tomando conta da capital, Katmandu, e outras regiões do país. Nesta terça-feira (9), manifestantes incendiaram a residência do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khanal, com sua esposa, Ravi Laxmi Chitrakar, ainda dentro do imóvel. Segundo o jornal The New York Times, ela sofreu queimaduras graves e foi resgatada pelo Exército, sendo encaminhada para tratamento hospitalar. O ataque é parte de uma onda de revolta contra a classe política nepalesa, marcada por forte influência comunista e escândalos de corrupção que alimentam a indignação popular. Tocador de vídeo 00:00 00:21 Tocador de vídeo 00:00 01:14 Vídeo disponível em plataformas de notícias como Reuters e AFP mostra manifestantes invadindo e incendiando prédios governamentais, incluindo a casa de Khanal, com fumaça espessa cobrindo o céu da capital. Os protestos, que eclodiram na segunda-feira (8), começaram como uma reação ao bloqueio de redes sociais, como Facebook e Instagram, imposto pelo governo na semana passada. A medida, justificada como combate a discurso de ódio e fraudes online, foi vista como uma tentativa de silenciar críticas a um governo acusado de corrupção sistêmica. Confrontos entre policiais e manifestantes em frente ao Parlamento deixaram pelo menos 19 mortos e mais de 100 feridos, segundo a TV estatal nepalesa. O slogan “Bloqueiem a corrupção, não as redes sociais” resume a revolta, especialmente entre os jovens, que enfrentam desemprego crônico e um cenário político dominado por escândalos. Tocador de vídeo 00:00 00:26 O Partido Comunista, que copreside o governo sob a liderança do agora ex-primeiro-ministro KP Sharma Oli, está no centro das críticas. A influência comunista no Nepal, intensificada desde o fim da monarquia em 2008, tem sido marcada por denúncias de corrupção e má gestão. A insatisfação popular com a elite política, que controla o país em meio a privilégios enquanto milhões de nepaleses migram para o exterior em busca de trabalho, atingiu um ponto de ruptura. Casas de autoridades, incluindo a do próprio Oli, foram incendiadas, e o Parlamento foi invadido e destruído por manifestantes enfurecidos. Pressionado, Oli renunciou ao cargo nesta terça-feira, afirmando que o gesto busca “uma solução política”. A decisão, porém, não acalmou os ânimos. Além da casa de Khanal, outros símbolos do poder, como o principal edifício administrativo do governo e hotéis de luxo, como o Hilton e o Varnabas, foram alvos de ataques. O aeroporto internacional de Katmandu foi fechado devido à fumaça dos incêndios, e civis armados com rifles de assalto foram vistos nas ruas, em cenas que evidenciam o colapso da ordem pública. O Exército assumiu o controle da segurança do país a partir das 22h (horário local), com um toque de recolher imposto em áreas estratégicas de Katmandu. O Ministério da Saúde pediu doações de sangue para tratar os feridos, enquanto autoridades apelam pelo fim dos saques e incêndios criminosos. O presidente Ram Chandra Paudel aceitou a renúncia de Oli e já busca um novo premiê, mas o caminho para a estabilidade parece distante. O Nepal enfrenta sua pior crise em décadas, com uma combinação explosiva de instabilidade política, desigualdade econômica e revolta contra a corrupção. A influência comunista, que prometia mudanças após o fim da monarquia, tornou-se sinônimo de privilégios para uma elite política desconectada das necessidades da população. Enquanto as chamas consomem Katmandu, o futuro do país permanece incerto, com a revolta popular desafiando as estruturas de poder e exigindo mudanças profundas.
fonte:cm7