1. O que leva um profissional de advocacia, com uma bem sucedida banca, entrar para a política?
O que me leva para política é justamente a minha dedicação de mais de 20 anos, com relativo sucesso, à Justiça. Posso dizer que este sentimento de Justiça no âmbito jurídico transbordou em mim para um desejo de fazer um outro tipo de Justiça, a social. Hoje minha motivação é ouvir as pessoas lá onde elas vivem, o que precisam e de que forma o Estado pode resolver este problema, através do cumprimento das leis, o respeito às pessoas e propostas inteligentes.
2. O parlamento seria a melhor forma de chegar às causas sociais, com mais serventia aos que necessitam, do que a Justiça?
Sem dúvida. A Justiça , no sentido em que trabalhei até o momento, tem que ser provocada para agir. Requer que aquelas pessoas que precisam tenham que ter acesso ao Judiciário, a um advogado ou defensor público. Na política, você trabalha no sentido inverso. O Estado tem obrigações legais que deve cumprir. Tem recursos que precisam chegar a quem necessita. Faz-se urgente ter pessoas que entendam dessas leis, de como funciona o mundo jurídico e que tenha disposição de fiscalizar. É ao que estou me propondo neste momento.
3. A OAB ainda é uma entidade com a mesma força para defender a democracia, como foi anos de chumbo da ditadura militar?
Os contextos são diferentes e a necessidade de reação da entidade também é de outra intensidade. A ditadura foi o pior período da história de nosso país e deve ser lembrado e relembrado com o tal. E a atuação da nossa OAB foi uma reação à altura, com representantes corajosos e valorosos que muito nos orgulharam. Registre-se: ditadura nunca mais! No momento atual, vejo que o compromisso com a democracia segue sendo um dos pilares de nossa OAB, porém, diante do ambiente extremamente polarizado politicamente, há, no meu entender, um nível diferente de disputa, que sinceramente, não vejo ameaça à democracia no mesmo nível dos anos de chumbo. Ninguém nesta polarização tem força suficiente para desconstruir nossa democracia, sem uma reação de toda a sociedade, como pudemos ver nos últimos meses. A OAB precisa manter o seu relevante e combativo papel fora do alcance político partidário, mas sem, jamais, deixar de usar sua força para defender a democracia.
4. Como o senhor avalia o trabalho da Ordem Amazonas, em relação às questões mais identificadas com região, como a defesa de órgãos de fiscalização da floresta, queimadas, invasão de garimpeiros nas terras indígenas, etc?
A OAB possui Comissões temáticas formadas em várias frentes de trabalho. Em minha passagem pela Ordem como Conselheiro (2019-2021), tive a oportunidade de coordenar as mais de 90 Comissões Especiais e 05 Permanentes na OAB-AM, inclusive criando grupos de trabalho especificamente para lidar com os desafios da pandemia, atuando em cooperação com diversos Conselhos das áreas de Saúde. Posso afirmar que existem valorosos colegas advogados e advogadas trabalhando nessas questões identificadas com a região. Porém, todas as Comissões são submetidas a uma Diretoria. E aí temos dois pontos interessantes: primeiro é o direcionamento e autonomia dado por essa Diretoria à essas questões, que irão refletir na ponta os trabalhos que serão ou não realizados. Um segundo ponto é que, nas questões da defesa de órgãos de fiscalização da floresta, queimadas, invasão de garimpeiros nas terras indígenas, etc, é necessário muito mais do que uma fiscalização das comissões da OAB ou a boa vontade do presidente da Ordem em publicizar essas questões. Faz-se necessário anelar esses trabalhos com os demais entes do poder público, criar grupos de trabalho e de interesse amplo para termos força política a de mudar tanta coisa exdrúxula acontecendo em nossa região, muitas vezes suportadas pela ação ou omissão de entes públicos.
5. Caso eleito, o senhor vai dedicar seu mandato à luta a sua categoria ou às causas populares, defesa dos direitos das mulheres, liberdade de gênero, Zona Franca, violência e questões ambientais?
Em nossa campanha, apresentamos propostas em várias frentes: ZFM, comércio, Cultura, Saúde, Segurança, Interior, Meio Ambiente. Foi uma declaração de propósitos para nosso mandato. Queremos trabalhar para a maioria das pessoas e empresas que contribuem para uma arrecadação!ao de mais de 26 bilhões de reais no ano que vem. A questão é fiscalizar a execução desse orçamento e propor, de forma inteligente, a sua aplicação. Sou advogado e continuarei sendo, pois é a minha profissão que exerço há mais de 20 anos. E, como uma voz da Advocacia no Amazonas, pretendo aproximar a nossa atividade das questões das políticas
Públicas, como fiz enquanto desenvolvi atividades como Coordenador-Geral de Comissões da OAB-AM. Temos propostas para isso e, mais importante, a interlocução profícua com os nossos colegas advogados, da magistratura, do ministério público e da defensoria.
6. O que o senhor faria de diferente hoje para mudar o conceito negativo que ainda pesa hoje sobre os políticos?
Difícil para apenas um agente político mudar um contexto sistêmico negativo. O que posso garantir é agir da mesma força com que tenho pautado minha trajetória, com preparo, diálogo, energia e empatia. Acredito que, pela minha origem e história, agindo diferente será a minha contribuição para mudar o conceito negativo que ainda pesa hoje sobre os políticos de uma maneira geral.
7 A justiça brasileira faz justiça aos que precisam de justiça ou ainda protege poderosos e inocenta aqueles que de fato mereciam ser punidos?
A sensação de que justiça brasileira ainda protege poderosos e inocenta aqueles que de fato mereciam ser punidos é um fato. Tecnicamente, essas pessoas são aquelas que dispõem de recursos financeiros e técnicos para, no campo jurídico e usando as leis, conseguirem escapar da discussão do mérito das suas acusações. A justiça brasileira responde quando instada a partir dos critérios legais. Quando há falhas processuais ou de condução do inquérito, ficam brechas para se impedir que se discuta o fato principal e se puna os culpados.