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CV expande territórios no Amazonas e desafia forças de segurança

A megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, contra a facção criminosa Comando Vermelho (CV), que resultou na morte de 117 suspeitos e 4 policiais, evidenciou a dimensão do crime organizado no Brasil. De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas Penais, células do CV estão presentes em pelo menos 25 estados, incluindo o Amazonas.

Segundo especialistas, o Amazonas ocupa uma posição estratégica para o tráfico de drogas, com o Rio Solimões sendo usado como rota para escoar o material ilícito.

“Como o estado do Amazonas é composto por inúmeras vias fluviais, uma vez que a navegação é o principal meio de deslocamento do amazonense para outras cidades do nosso estado, os rios são as ‘estradas’ que ligam os municípios”, comentou a especialista em Segurança Pública, Goreth Rubim.

Essa rota é altamente disputada pelas facções criminosas, e o Comando Vermelho (CV) consolidou seu espaço após o enfraquecimento da então dominante Família do Norte (FDN).

“O Comando Vermelho surgiu no Amazonas devido às desavenças internas que começaram a haver dentro da antiga FDN, com a ida do José Roberto para o presídio federal. A disputa pelo poder abriu brecha e o CV veio entrando no início, disputando o espaço, mas foi chegando”, comentou o especialista em Segurança Pública, Coronel Amadeu Soares.

Rio Solimões e o tráfico de drogas

Foto: Reprodução

O relatório “Cartografia da Violência na Amazônia 2024” aponta que 21 municípios do Amazonas registram a presença de facções criminosas. Em 13 desses municípios, atua apenas um grupo, enquanto em 8 há a coexistência de duas ou mais facções. O Comando Vermelho (CV) se mantém hegemônico em dez municípios e está presente em todos os municípios monitorados, mesmo onde há múltiplas facções.

Foto: Divulgação

A região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru tornou-se estratégica para a facção criminosa, que passou a expandir sua influência, firmando acordos com grupos estrangeiros.

“Os dois outros municípios com presença de duas facções estão localizados na Zona de Fronteira Setentrional, especificamente na sub-região da Cabeça do Cachorro, que corresponde aos municípios de Japurá e São Gabriel da Cachoeira. Nesses municípios, há indícios da presença das facções estrangeiras colombianas, que atuam como aliadas do CV no abastecimento de maconha e cocaína, transportadas pelos rios Japurá, Iça e Negro, que atravessam os municípios. Assim, as facções colombianas entregam drogas na região da fronteira a membros do CV nesses municípios, que a partir daí passam a ser responsáveis pela distribuição dos produtos até as principais cidades”, destaca o relatório.

Além do tráfico de drogas, o Comando Vermelho atua em outras atividades que geram receita ilícita para a facção.

“Eles atuam nos rios, no transporte e também estavam atuando nos garimpos ilegais de Roraima e do Amazonas. E também praticando roubo aí no meio do rio. Eles também têm uma briga, uma rixa grande com os piratas, que também roubam deles as drogas. Enfim, eles tornaram os nossos rios que eram águas tranquilas em águas bem turvas e bem tumultuadas” destacou o Coronel Soares.

Avanço em Manaus

Foto: Duílio Cândido

Na capital amazonense, o Comando Vermelho atua em todas as zonas. Muros pichados com símbolos da facção denunciam seu domínio pelas ruas da cidade. A população vive sob constante ameaça, vulnerável a membros da facção que não hesitam em punir quem desafia suas “regras”.

Em dezembro de 2024, uma moradora do bairro Santo Agostinho, na Zona Oeste de Manaus, foi forçada a deixar sua própria casa por criminosos. Segundo testemunhas, um homem ligado ao tráfico de drogas havia alugado o imóvel, mas depois alegou que a residência pertencia ao grupo criminoso. Ele ameaçou a mulher, dizendo que ela deveria “esquecer a casa” e que qualquer pessoa que tentasse cobrar aluguel seria “desaparecida”.

O episódio gerou revolta entre os moradores, e a Polícia Militar precisou intervir, expulsando os criminosos, garantindo a segurança da moradora e restabelecendo a ordem no imóvel.

Esse caso é apenas um exemplo do poder da facção criminosa, que age acima da lei diante da ausência da segurança pública, como ressalta o Coronel Amadeu Soares. Para ele, conter o crime organizado requer investimentos consistentes do poder público, há tempos insuficientes.

“As forças de segurança têm atuado de forma pontual, somente com a apreensão de drogas. Você não vê uma investigação mais aprofundada, aquela que vai mexer lá, seguir o caminho do dinheiro, aquela que vai mexer nas estruturas deles. Você não vê a estratégia de segurança pública focada para mexer, de fato, com a destruição do clima organizado. Você só vê pontualmente apreensões de drogas e não passa disso”, destacou.

Repressão ao crime organizado

Foto: Divulgação/SSP-AM

Em resposta, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas afirmou, em nota, que realiza ações incisivas de repressão ao crime organizado. Segundo a pasta, neste ano já foram apreendidas mais de 38 toneladas de entorpecentes em todo o estado, resultado direto das operações integradas, que demonstram a eficiência do trabalho conjunto no enfrentamento às organizações criminosas que tentam usar as vias fluviais para o transporte de drogas e outros ilícitos.

Para garantir maior presença e eficácia nas regiões estratégicas do Amazonas, o Estado conta atualmente com três Bases Arpão, duas bases náuticas de apoio operacional, lanchas blindadas e lanchas de transporte de tropa, equipamentos que ampliam a segurança das forças policiais.

Ainda segundo a Secretaria, desde 2019 o Programa Amazonas Mais Seguro já recebeu investimentos superiores a R$ 1,16 bilhão, destinados à modernização das forças de segurança, reforço do efetivo, aquisição de equipamentos, viaturas, embarcações e tecnologia de inteligência.

Apesar dos avanços, para o Coronel Amadeu Soares, é necessário reformar a estrutura do sistema para que as ações de segurança tenham impacto real na vida da população.

“A primeira medida não é uma medida de inteligência, é a medida da mudança da lei. A lei está muito leniente, muito fraca, muito lerda para conter o avanço deles. Nós precisamos de leis mais rígidas para conter o avanço que tem organizado. E o Estado precisa se estruturar, precisa de um plano de segurança focado, integrado, com estrutura, com toda a polícia sendo remunerada à altura, para a gente poder fazer um enfrentamento, como deve ser, enfrentamento de manual contra o crime organizado, nos nossos rios, nas nossas divisas e nas nossas fronteiras”, finalizou.

 

*Fonte: Em tempo

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