Copa do Mundo em geral é um momento ímpar, ocorrendo a cada quatro anos, temos a oportunidade de ver o melhor da nata do esporte mais praticado e seguido em todos os cantos do planeta, para aqueles como eu que são aficionados pelo esporte de Charles Miller a chance de acompanhar a um só tempo as nuances de todos os craques juntos em busca da vitória.
Até aqui a Seleção canarinho tem apresentado consistência e resultados, estamos todos empolgados com a recém classificação antecipada para as oitavas de final, ao tempo em que finalizamos o artigo desta semana temos a seleção de Senegal vence por um gol frente ao Equador e Holanda segue vencendo por 2×0 da seleção do Catar, já eliminado das próximas fases, neste instante a mente divaga sobre o significado destes embates paras as nações em um panorama atual das Relações Internacionais.
De acordo com o periódico britânico “The Economist”, a Inglaterra vem desfrutando de um sentimento de união, de comunidade em seu povo, graças ao futebol. De um passado não tão distante em que o país ficou diametralmente dividido pelo hoje famoso Brexit de 2016, encontrando um certo objetivo em comum ao passar pelo período pandêmico em 2020, hoje há um sentimento palpável de pertencimento, orgulho de ser representado em campo, demonstrado principalmente pelos mais de 60.000 torcedores que estiveram em Wembley para acompanhar a vitória contra sua arquirrival Alemanha nas quartas-de-final da Eurocopa e presentemente no Catar para assistir o resultado de 6×2 sobre o Irã.
Do lado de cá do Atlântico uma história um pouco diferente se desenrola, a começar pelas críticas feitas acerca do potencial uso politico das cores de nossa Seleção, torcedores por vezes receosos de sair ou expor a bandeira nacional, há quem inclusive o faça com a ressalva de que está apoiando o Brasil na Copa, passando inevitavelmente pela aparente falta de identificação com os jogadores selecionados, em sua maioria atuando em clubes europeus, até o polêmico chamado de Daniel Alves, mais veterano dos jogadores selecionados pelo Professor Tite.
De maneira oposta ao que ocorreu em solo Bretão, por aqui o país ficou dividido entre os ditos “patriotas” e “não-patriotas”, designação aleatória e sem qualquer embasamento técnico-jurídico ou mesmo científico usado para apontar aqueles que emprestaram ou não seu apoio ao atual Presidente da República.
Em vista destes exemplos, resolvemos lembrar que o sinal distintivo e elementar para consolidação do Estado está na formação de seu povo, o qual de acordo com a Convenção de Montevidéu sobre Direitos e Deveres dos Estados de 1933, juntamente com os elementos território e governo formam o ente Soberano.
Por um lado é ainda preocupante o fato de termos a perpetuação do “nós”e “eles”criado e incentivado pelo futuro Presidente da República durante principalmente os últimos quatro anos, manifestações ditas antidemocráticas, pedidos de intervenção das forças armadas, impeachment de juízes, volta de suspensão de direitos de expressão, dentre outros.
Pelo menos a este articulista nem tudo está perdido, neste momento de Copa parece que algo maior nos une, todos, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, estamos torcendo por nossa Seleção, a despeito dos inúmeros problemas e desafios, no esporte mais popular em nosso País, somos todos um. Há críticas é verdade mas quero crer que todos queremos ver nosso time vencer e chegar ao pódio final campeão.
Quem sabe precisemos revisitar estas lições e entender que aquilo que nos une enquanto nação ultrapassa nossas opiniões pessoais, é tempo de reconciliar, de acabar com o “nós e eles” e quem sabe encontrar um objetivo e sentido em comum para aquilo que nos faz genuinamente brasileiros. Sem dúvida o esforço vale a reflexão.
Anderson F. Fonseca. Professor de Direito Constitucional. Advogado. Especialista em Comércio Exterior e ZFM.