Temos líderes em quem votamos. Temos as políticas em que votamos. E quando não votamos, terminamos com o governo do outro, pelo outro e para o outro”. Michelle Obama.
No momento em que escrevo o presente artigo estamos na semana derradeira para a corrida eleitoral de 2022, candidatos, cabos eleitorais, coligações e o povo em geral acompanhando as propagandas eleitorais, comícios, mensagens nos grupos das redes sociais, o corpo a corpo para conquistar os votos, dentre outros.
Na política polarizada que acabamos por encontrar em nosso país, as diversas “tribos” procurando defender, cada uma a seu modo, as ideias dos “chefes”. Aliás hoje a política brasileira requer da palavra “tribo”um conteúdo semântico adaptado para se alcançar a lealdade cega e de grandes paixões pela filiação partidária, tribos, descreve George Packer jornalista americano, “exigem lealdade e em troca, oferecem a segurança do pertencimento. De certa forma tornaram o pensamento desnecessário, porque pensam por você e vão puni-lo se tentar pensar por conta própria.”
A premissa central de nossa reflexão é a de que este pensamento tribal deve ceder lugar a princípios republicanos para o aperfeiçoamento da democracia e via de consequência do governo visto que a relação do Estado com seus cidadãos é simbiótica: governantes servem ao povo, ao gosto do povo. Isto é uma verdade em todos os Estados, mesmo nos mais radicais há necessidade de aprovação e apoio popular, é especialmente verdade em democracias, nas quais os cidadãos têm papel fundamental no aperfeiçoamento dos governos.
Qual então o papel dos cidadãos para melhoria dos governos? resta claro que bons cidadãos têm que ser politicamente engajados e bem informados. Mais importante quando podem, precisam escolher seus líderes políticos com inteligência e exigir deles prestação de contas, como então eleitores escolhem bons lideres? de outro lado, como são os líderes que saberão administrar o governo com os desafios que enfrentamos no presente século?
Defendo a ideia de que além de engajados os cidadãos devem também ser bem-informados. A educação cívica sempre foi essencial para os sistemas de governo e o bom funcionamento do Estado depende de os cidadãos cumprirem fielmente seus deveres cívicos. Acima de tudo devem participar ativamente do processo eleitoral e votar. Sei que é fácil exortar os cidadãos a se informar e votar, mas como os cidadãos vão além dessas obrigações e aprendem a escolher melhor seus líderes? Como aprendem a discernir os bons políticos dos ruins?
Segundo as teorias modernas sobre liderança os bons líderes são aqueles que possuem uma proposta clara e a comunicam aos seus seguidores, desenvolvem com eles uma relação especial, de confiança, nos bons e maus momentos. Na politica isto por si só é insuficiente. Líderes políticos tem que ser capazes não somente de discursar mas sobretudo executar. Não basta saber o que tem que ser feito, é essencial saber como fazer e ter a motivação e meios necessários para colocar suas propostas em ação.
Ser capaz de executar requer um sem número de habilidades: conhecimento, compromisso, experiência, pragmatismo, perseverança, capacidade de trabalho em equipe (incluindo adversários) e vontade de experimentar e admitir fracassos. Requer clareza sobre os fins, mas pragmatismo sobre os meios para alcançá-los.
Líderes inteligentes e de qualidade atraem pessoas inteligentes e de qualidade, os cidadãos têm que aprender a procurar reconhecer essa habilidade.
Nas escolhas feitas pela cidadania em eleições defendo que sejam feiras as seguintes perguntas sobre os candidatos a líderes em potencial: são bons em equilibrar ideologia e pragmatismo? são bons em organizar e liderar equipes? são bons em agregar as diversas correntes de pensamento? são bons em compreender o papel do governo? são bons em entender o uso e papel da tecnologia? são capazes de impulsionar um crescimento inclusivo? são capazes de criar uma cultura de inovação dentro do governo e na economia em geral?
Na esfera política, nem é preciso dizer que cidadãos deveriam procurar líderes com princípios transparentes e planos inteligentes e bem elaborados. Bons líderes são capazes de equilibrar princípios e planos, até mesmo sua ideologia, com a dose necessária de pragmatismo e cada vez mais a capacidade de ser pragmático tem a ver com a vontade de experimentar e conduzir políticas baseadas em dados concretos.
Os cidadãos devem perguntar aos seus candidatos se tomarão decisões baseadas em fatos ou de sua própria cabeça, possuem autocrítica e capacidade de julgamento para aprender com o fracasso e não somente com os sucessos?
Fundamentalmente os eleitores devem saber com antecedência se seus líderes serão como eram antes de assumirem seus cargos. Algumas características de líderes são visíveis quando estão em campanha. Os cidadãos devem observar os candidatos em apresentações ao vivo e debates na televisão e se perguntar: quem são seus apoiadores? de onde eles tiram seu dinheiro? com quem estão em dívida? ainda mais importante do que a campanha é sua experiência anterior e seu currículo.
Quando confrontados com potenciais candidatos, os cidadãos devem procurar saber o que eles fizeram antes. Dirigem ou desempenharam funções de liderança em organizações importantes? Quão boa são suas habilidades organizacionais e de construção e coordenação de equipes?
Para além das reflexões até aqui trazidas, há a premente necessidade de superarmos o tribalismo, a este fim em primeiro lugar precisamos estar cientes de nossas tendências tribais e vieses que as acompanham, cidadãos devem superar essas atitudes e comportamentos que reforçam estes preconceitos, precisam se relacionar ativamente com pessoas com pontos de vista opostos, ver as coisas sob outras e variadas perspectivas e delas ao menos tentar extrair interesses comuns. Mais importante, os cidadãos devem escolher líderes que sejam eles mesmos capazes de transcender pensamentos e sentimentos tribais.
Deve se dizer também que não basta escolher os líderes certos e então cruzar os braços e nada mais fazer até a próxima eleição. Cidadãos tem papel crucial na fiscalização da democracia, tem por isso que prestar atenção ao que está acontecendo entre as eleições, cobrar resultados de seus candidatos depois de eleitos, têm que manter a pressão por meio da imprensa, das redes sociais, participando de reuniões nos corpos legislativos e, se necessário for, protestar. Cidadãos podem e devem usar o poder das multidões, mobilizar apoio de outros para fiscalizar e forçar as mudanças necessárias no governo.
Nas democracias os governos servem o povo, ao gosto do povo, estes por sua vez votam e cobram resultados dos governos. Esta pacto ou contrato social que funcionou por tanto tempo principalmente no Ocidente, hoje precisa ser revisitado e aprimorado, entendo que para que o contrato social funcione de maneira adequada as pessoas, os cidadãos, mais do que nunca precisam fazer a sua parte.
Precisam estar engajados e bem-informados, Devem escolher com inteligência seus líderes e cobrar resultados durante e principalmente após as eleições. Em algumas hipóteses têm que trabalhar no governo, ou resolver problemas sociais como o governo a partir de organizações da sociedade civil. Acima de tudo, devem resistir as tendências trabalhistas e à mentalidade do “nós contra eles”.
Agora é o nosso momento, o momento das pessoas, dos cidadãos, precisamos enfrentar juntos os variados e múltiplos desafios que se apresentam. Precisamos escolher com inteligência e agir com sabedoria. O futuro de nossa democracia, de nossa sociedade e porque não dizer de todos nós depende disso.
Anderson F. Fonseca. Professor de Direito Constitucional. Advogado. Especialista em Comércio Exterior e ZFM.IG:@anderson.f.fonseca