Uma pesquisa iniciada no curso de Arqueologia do Centro de Estudos Superiores de São Gabriel da Cachoeira da Universidade do Estado do Amazonas (CESSGC/UEA) tornou-se defesa de mestrado da egressa e indígena do povo Baré, Odanilde Freitas Escobar. Intitulada “Rio Negro ancestral: marcas e narrativas nas pedras em São Gabriel da Cachoeira-AM”, a dissertação foi apresentada a banca examinadora pelo Programa de Pós-graduação em Diversidade Sociocultural do Museu Paraense Emílio Goeldi (PPGDS/MPEG) em uma reunião on-line, via Google Meet, na última segunda-feira (31/3).
Para Odanilde, mãe, esposa, artesã, agricultora, acadêmica, pesquisadora, agora mestra e, principalmente, mulher indígena, o estudo é importante para pesquisadores indígenas e não indígenas, pois fala das marcas, histórias do povo indígena do Alto Rio Negro, que merecem respeito e cuidado.
“Todos esses conhecimentos que eu pude compartilhar, que eu sei, são graças a anciãs, aos anciões, os mais velhos, que repassaram a mim através da oralidade. Gratidão aos meus ancestrais que compartilharam, mostraram através de sonhos os lugares onde a pesquisa deveria acontecer. Gratidão a natureza que sempre me acolheu com muito carinho”, disse.
Segundo a diretora do CESSGC e coorientadora da egressa, a Prof.ª Dra. Solange Pereira, a metodologia utilizada pela egressa é inovadora, pois também dialoga com a filosofia. “Ela usou muito na primeira pessoa, trazendo as experiências dela como indígena, como mulher. As experiências de uma infância, de um crescimento dentro da cultura e nos aspectos da cultura, desde a sua infância, ali com seus pais, seus tios, na ilha de Duraca, em Camanaús. Ou seja, ela traz essa memória do limiar junto a outras falas. Abrindo para outras falas, para a narrativa de outras pessoas que também conhecem esses vestígios, que são indígenas de São Gabriel”, ressaltou.
Etapas do trabalho
O trabalho está dividido em três capítulos, denominados de vestígios pela egressa. O primeiro vestígio traz o contexto da pesquisa, onde aborda ainda o histórico de pesquisadores que passaram pela região desde o século XIX e XX, até os dias atuais com a Arqueologia feita pelos pesquisadores e especialistas indígenas.
O segundo vestígio traz dados coletados ao longo da pesquisa. “Nós propomos a falar sobre os afiadores e polidores documentados na orla de São Gabriel. Analisamos também algumas narrativas, vozes e visões dos moradores do entorno dessa área, no modo como se relaciona com esses e outros tantos artefatos líticos móveis, como lâmina de machado e ponta de projétil, que compõe a coleção doméstica na região“, afirmou.
O terceiro vestígio traz uma interpretação pessoal e subjetiva sobre os artefatos e os sonhos, assim como as narrativas dos anciões sobre as marcas nas pedras e os cuidados dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro.
O resumo da pesquisa está traduzido nas 4 línguas cooficiais de São Gabriel da Cachoeira: o Nheengatu, Yanomami, Tukano e Baniwa.