Amazonas – A disputa de cores e sons que movimenta o Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas, ganhou um novo palco: os bastidores políticos. Em meio a tensões com o governo estadual, os bois-bumbás Caprichoso e Garantido anunciam a possibilidade de organizar o evento em 2025 sem a participação direta do governo. O estopim: venda de ingressos O ponto de ruptura começou com a licitação para a bilheteria do festival, conduzida pelo governo sem consulta prévia aos bois. Os dirigentes Rossy Amoedo (Caprichoso) e Fred Góes (Garantido) acusam o Estado de interferir na autonomia das associações, que detêm os direitos intelectuais sobre o espetáculo. Em uma nota conjunta, os bumbás afirmaram que a comercialização de ingressos é uma atribuição exclusiva das associações, e qualquer tentativa de gestão externa seria uma afronta à tradição do festival. Governo responde: maturidade ou ruptura? O governador Wilson Lima adotou um tom de aparente aprovação ao movimento. “Fico feliz com a maturidade dos bois. Meu objetivo sempre foi que as agremiações não dependessem mais do Governo do Estado para realizar o festival”, afirmou. No entanto, Lima fez um alerta sobre a gestão financeira dos ingressos, criticando taxas abusivas cobradas em anos anteriores. “Hoje, as empresas levam de 40% a 50% do valor dos ingressos. Existem operadoras que fazem o mesmo serviço por 5%”, destacou o governador. Caso a ruptura se concretize, os bois terão de enfrentar obstáculos significativos. O governo estadual é responsável pela infraestrutura pública, incluindo saúde, segurança e turismo, além de ser um dos principais patrocinadores. O próprio bumbódromo, palco das três noites de espetáculo, é um espaço público do Estado. Apesar disso, o histórico mostra que é possível realizar o festival sem o apoio governamental. Em 2016, durante a gestão do governador José Melo, o evento foi financiado exclusivamente pelos bumbás após o governo não oferecer patrocínio. Autonomia x Tradição A possível independência dos bois reflete uma tensão mais profunda: o equilíbrio entre autonomia e tradição. Para muitos, o festival é um patrimônio que transcende as disputas políticas e deve continuar como símbolo da cultura amazônica. Por outro lado, os bumbás reforçam que são eles os verdadeiros protagonistas da festa e que qualquer interferência externa prejudica o caráter popular do evento. Enquanto isso, a população de Parintins e fãs do festival aguardam o desfecho desse embate, temendo que a disputa administrativa ofusque o brilho da festa que transforma a ilha amazônica em um palco mundial de cultura e emoção.
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