Os últimos dias foram agitados na Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom). O secretário Israel Conte virou alvo preferencial dos adversários do prefeito David Almeida (Avante) depois que o site Metrópoles divulgou um vídeo em que o motorista do site O Abutre aparece entrando no órgão e recebendo um envelope que logo a seguir ele abre, já em um banheiro, mostrando o conteúdo: maços de dinheiro vivo. Os opositores do Executivo Municipal reagiram de imediato não apenas espalhando ao máximo a publicação, como também fazendo pronunciamentos e até pedindo a investigação a autoridades policiais. Já a Prefeitura contesta as acusações afirmando que a peça á uma montagem.
Na prática, o vídeo acabou servindo para mais um round numa campanha antecipadíssima, que já apresenta lances impressionantes como uma operação da Polícia Federal que mirou em donos de agências de publicidade acusados de usar a inteligência artificial para atacar adversários de seus contratantes.
O dono do site O Abutre, Elson Santos, confirmou que o autor do vídeo é seu funcionário, mas diz que trata-se de uma farsa e nega ter recebido pagamentos em dinheiro vivo. O papel do empresário e de seu veículo de comunicação no episódio ainda é um mistério.
Esta não é a primeira vez que o site Metrópoles, um dos mais polêmicos do Brasil, ataca a gestão de Almeida. O veículo pertence ao ex-senador Luiz Estevão, que chegou a ser preso depois de investigações realizadas no âmbito da CPI do Judiciário, no Senado. Ele foi apontado como diretamente envolvido com o juiz Nicolau dos Santos Neto no esquema de desvio de verbas das obras do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. Foi o primeiro senador a ser cassado, em 28 de junho de 2000, sendo preso e condenado pelos crimes de peculato, corrupção ativa e estelionato.
“O vídeo apresenta, ao olhar mais atento, uma manipulação grosseira. Analisando quadro a quadro do momento exato em que a pessoa aparece com uma sacola na mão, que supostamente estaria com dinheiro, a atendente da Secretaria está atrás de uma mesa com computador, distante do homem que a filma, portanto, sem a possibilidade dela ter entregue a referida sacola”, diz um editor de imagens ouvido pelo blog, que pediu anonimato por se tratar de profissional que atua em várias campanhas políticas.
A peça inicia com o homem entrando em um elevador. Em seguida ele chega à Semcom e vai até a atendente, que pergunta de que portal ele é funcionário e vai em direção a uma sala. Nesse momento, o homem se aproxima da porta da recepção, entreaberta, e em segundos, antes mesmo da pessoa retornar, ele já aparece com uma sacola.
Esse é o ponto chave do vídeo, que para os opositores é verídico, mas para o editor por revelar uma farsa. “Na mesma imagem, a servidora aparece em segundo plano, distante dele, portanto, sem a possibilidade dela ter entregue algo ao homem. Mas isso só pode ser percebido pausando o vídeo, pois a filmagem é trêmula e confusa, como se fosse proposital, com o intuito de falsear a alegada entrega da sacola com dinheiro”, diz ele.
Na sequência do vídeo, o homem sai da Secretaria e entra em um banheiro, que fica do outro lado de um corredor, de frente para a porta de entrada da Secretaria. A sacola não aparece nas imagens neste momento. Em seguida, já próximo a um vaso sanitário, ele abre a sacola e tira maços de dinheiro.
Apuração interna e pedidos de investigação
A Semcom informa que tomou conhecimento do vídeo pela imprensa, na quarta-feira, dia 13/3, e que já deu início a uma apuração sobre o caso, em especial sobre as circunstâncias em que o vídeo foi gravado.
Os vereadores Rodrigo Guedes (Podemos) e Capitão Carpê (Republicanos) pediram ao Ministério Público e à Polícia que apurem o caso. O mesmo fez o deputado federal Amon Mandel (Cidadania).
Esta não é a primeira vez que a gestão municipal é alvo de ataques cibernéticos. Na véspera do Natal de 2023, circulou em grupos de WhatsApp, suposto áudio do prefeito de Manaus, David Almeida, proferindo xingamentos aos professores. A fala foi montada, com uso de inteligência artificial, com frases que nunca foram ditas pelo prefeito.
David Almeida denunciou o caso à Polícia Federal (PF), que investiga o episódio. Em operação no início deste ano, a PF fez busca e apreensão em residências e agência de publicidade, tendo como alvos, designers, um publicitário, pessoas que propagaram a deepfake, todos suspeitos de terem participado da farsa contra o prefeito. Este foi o primeiro caso de deepfake no País contra um gestor nas vésperas do processo eleitoral deste ano.
fonte:blogdohiellevy
