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A MÃO E A LUVA

Clássico da literatura brasileira, oriundo da pena de Machado de Assis, A Mão e a Luva romace publicado em vez primeira no jornal O Globo, transcorre no bucólico bairro de Botafogo no Rio de Janeiro, naquela quadra histórica ainda marcado por chácaras em sua paisagem, tem como protagonista, como é comum em sua obra, uma mulher.

O romance se desenvolve em torno de uma típica situação para os tempos de então para as mulheres do Século XIX, o papel reservado a suas vidas em um chamado bom casamento. Guiomar, a protagonista, divide-se na escolha entre três pretendentes:  o romântico clássico Estevão, Jorge nascido em berço de ouro e Luís Alves, advogado e vizinho de chácara.

Ao final do romance há uma barganha feita entre a protagonista Guiomar e Luís ao perguntar a ele o que ela ganhará se o escolher, uma vaga na Câmara ou um cargo no Ministério, ao que o pretendente responde: “dar-te-ei o lustre do meu nome”, e assim as duas ambições se ajustam como uma luva feita para aquela mão.

É assim que vemos nas corridas presidenciais: há muitos pretendentes, mas somente um se encaixa na luva do eleitorado, que tem a palavra final.

Vamos todos nós eleitores, brasileiras e brasileiros, depositar nas urnas o voto, em grande parte motivados por aquilo que nos identifica, o que é importante para nós mesmos, para nossa família, amigos, vizinhos, colegas e porque não,também para a Nação.

Nos últimos pleitos, tal qual Guiomar do romance Machadiano, encontramos em nosso eleitorado três vertentes distintas de eleitores: há os que votam somente em candidatos do PT; há os que sempre escolhem candidatos não petistas; e há os que mudam de voto, estes permitem a alternância de poder, ora rejeitando o PT (1989, 1994,1998 e 2018),ora levando seus candidatos a vencer (entre 2002 e 2014).

Em alguma monta, o resultado das eleições presidenciais reflete as condições econômicas encontradas no país. Segundo dados estatísticos momentos de aumento no consumo beneficiam quem está no poder, assim foi em 1994, 1998, 2006 e 2010. De outro lado, situações de crise marcadas principalmente por desemprego e aumento da inflação acabam por dar a vitória a oposição, tal qual ocorrido em 2002.

No final do dia, a percepção do eleitor médio, a chamada opinião pública, é o enigma a ser desvendado pelos candidatos, e ele varia de acordo com os acontecimentos nacionais, em particular devido a volatilidade do sentimento de bem-estar individual e familiar.

Ponto fora desta curva foi a eleição de 2018, nesta podemos dizer que se aplicou a máxima do futebol, foi uma verdadeira caixinha de surpresas. Fatores variados levaram ao resultado obtido pelo candidato vencedor, dentre eles o eleitorado do PSDB transferido integralmente à candidatura do atual Presidente, somando-se a um fator comportamental sucinto para o voto: partidos de esquerda no Brasil e no mundo recebem proporcionalmente mais votos de eleitores que se encontram na parte inferior da pirâmide social, ao passo que partidos de direita recebem votos dos que se encontram na parte superior desta mesma pirâmide.

Tal qual a mão e a luva há de se saber quais fatores levarão à vitória, é dizer qual o candidato tem mais chances de vencer. Segundo dados obtidos no livro de mesmo título, objeto de pesquisa de Alberto Carlos Almeida e Tiago Garrido, a resposta só pode ser encontrada na opinião pública.

De acordo com os autores, entenda-se opinião pública como “as visões que as pessoas têm sobre temas relacionados ao governo e às questões públicas em contraste com assuntos privados”.

Neste sentido é sempre importante lembrar que o mundo das opiniões é inegavelmente plural e variado, todos temos opiniões e estas são baseadas em valores, princípios e crenças, importa distinguir que opiniões refletem nossas relações com o governo, quais as políticas públicas e os impactos em nossas vidas, daquelas baseadas em sentimentos momentâneos ou que refletem puramente emoções.

Ao fim e ao cabo, a decisão tomada por todos nós eleitores inteligentes deve ser baseada na percepção de futuro, propositiva, que leve em conta não ganhos momentâneos ou de curto prazo, é dizer nos termos da barganha feita por Guiomar, que escolhas nos trarão “lustro ao nome” neste bom casamento de mão e luva para nossa nação.   

Anderson F. Fonseca. Professor de Direito Constitucional.                  

Especialista em Comércio Exterior e ZFM. Advogado.                                                                    

IG: @anderson.f.fonseca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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